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A Tarde Memória 5w2e1s

Por Andreia Santana*

ACERVO DA COLUNA
Publicado sábado, 17 de maio de 2025 às 3:05 h | Autor:

Biblioteca dos Barris une leitura e cidadania há mais de 200 anos 2i1x1u

Espaço criado em 1811 fez aniversário este mês e tem história rica com mudanças para cinco sedes 23364l

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Entrada principal da Biblioteca Central - Biblioteca Pública do Estado da Bahia
Entrada principal da Biblioteca Central - Biblioteca Pública do Estado da Bahia -

Quem ama livros sabe o tamanho do pesadelo que é perder um exemplar esquecido no banco do metrô ou emprestado e nunca mais devolvido. Agora, imagine um porto no começo do século XIX e centenas de pessoas agitadas, com carregadores movendo centenas de bagagens de um lado para o outro. Quem vai viajar está com os nervos à flor da pele, mantém um olho no navio e o outro na chegada das tropas inimigas. Um retrato caótico de uma fuga desabalada. Meses de travessia oceânica e, no desembarque do outro lado do Atlântico, a constatação: “cadê os livros?”

D. João VI esqueceu a Biblioteca dos Reis no cais, em novembro de 1807, quando a corte portuguesa se mudou compulsoriamente para o Brasil, fugindo de Napoleão. A primeira parada, em 1808, foi em Salvador. Os 45 dias em que a corte permaneceu na cidade são um capítulo à parte dessa história. Lá em Lisboa, centenas de caixotes recheados de livros raros foram abandonados à própria sorte até 1810, quando o acervo começou a ser remetido para a colônia, uma operação que só foi concluída no ano seguinte, 1811, mesmo ano em que Salvador ganhava a sua primeira biblioteca pública, oficializada em 13 de maio daquele ano, aniversário do príncipe regente.

O acervo de D. João VI não veio para a Bahia. Quando os caixotes de livros da Biblioteca dos Reis começaram a desembarcar no país, a corte já estava estabelecida no Rio de Janeiro. Os livros raros do monarca, mais tarde, dariam origem à Biblioteca Nacional, já que, em 1822, quando voltou para Portugal, D. João VI deixou a maior parte dos livros na capital fluminense. Oficialmente, a Biblioteca Nacional estabelece seu marco de criação em 1810. Mas, até então, era o acervo real, de propriedade da coroa, mas que permitia consultas de certos setores da sociedade.

A Biblioteca Central se mudou para os Barris em 1970
A Biblioteca Central se mudou para os Barris em 1970 | Foto: Antonio Queirós/ Cedoc A TARDE/ 21-06-1995

Por aqui, a Biblioteca Central do Estado da Bahia já nasceu como equipamento público e, este ano, comemora 214 anos de criação, 55 deles no endereço da Rua General Labatut, 27, nos Barris. A nossa, é considerada, por isso, a primeira biblioteca pública do país e da América Latina, conforme registro no Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP). A iniciativa de criar o equipamento aberto para todas as pessoas, na origem com três mil livros, foi do dono do Solar Ferrão (coronel Pedro Gomes Ferrão Castelo Branco). Ele recebeu autorização, na época, do VIII Conde dos Arcos, Dom Marcos de Noronha e Brito, o vice-rei brasileiro e governador da Bahia.

Também chamada de Biblioteca Pública do Estado da Bahia e, afetivamente, conhecida do grande público como Biblioteca Central dos Barris, desde 1970, quando ela se mudou para o endereço definitivo, o acervo de mais de 680 mil documentos têm uma relação profunda com a história de Salvador e já enfrentou verdadeiras odisseias para manter-se de pé e funcionando.

A Biblioteca Central tem diversos setores como o de pesquisa e empréstimos
A Biblioteca Central tem diversos setores como o de pesquisa e empréstimos | Foto: Antonio Queirós/ Cedoc A TARDE/ 10-11-1993

Antes de chegar à rua General Labatut, a biblioteca funcionou na antiga livraria dos jesuítas, no complexo onde ficava o antigo colégio da Companhia de Jesus, ao lado da Catedral Basílica, no Terreiro de Jesus. Ao longo dos seus mais de dois séculos de existência, também já foi bombardeada e incendiada, em 1912, quando só restaram 300 livros; e, durante a última reforma, nos anos 1990, ficou abrigada temporariamente no Palácio Rio Branco, na Praça Municipal. E isso nem é, ainda, a história completa.

Memória preservada 3c37m

Parte da história da Biblioteca Central está preservada no Centro de Documentação (Cedoc) de A TARDE, a partir de fotografias, e nas páginas do jornal. A edição de 14 de maio de 2001, em comemoração aos 190 anos do equipamento, por exemplo, traz a cronologia detalhada das fases da biblioteca, desde a criação em 1811 até a inauguração da reforma do prédio dos Barris, em março de 1998. É a partir desse registro que ficamos sabendo que em 1850, a biblioteca baiana foi pioneira na implantação do sistema Garnier de catalogação por fichas, o mais moderno na época.

A tragédia do bombardeio da cidade de Salvador, em 10 de janeiro de 1912 também resultou em prejuízo cultural, além de patrimonial, para a cidade, com a destruição de prédios oficiais. A Biblioteca Pública do Estado da Bahia, na época, funcionava no Palácio do Governo, que foi atingido e destruído pelo bombardeio. O incêndio resultante do ataque destruiu 99% do acervo. Salvador foi bombardeada no contexto das disputas políticas e oligárquicas das primeiras décadas da república.

Sete anos depois do ataque, a biblioteca foi reinaugurada, em 28 de setembro, na Praça Tomé de Souza, já com capacidade para 100 mil volumes. Outro incêndio, desta vez iniciado no galpão da Imprensa Oficial, vizinho da biblioteca, consumiu o prédio, em 1961. A partir daí, começou a construção da sede nos Barris, para onde o equipamento se mudou em 05 de novembro de 1970 e onde permanece até hoje, tendo incorporado informalmente a denominação do bairro ao próprio nome.

“Quando falamos da Biblioteca Central do Estado da Bahia, falamos de 214 anos de história. De uma história que perou por diversos espaços, por várias [outras] histórias. A Secretaria de Cultura do Estado da Bahia e a Fundação Pedro Calmon [gestora do equipamento] acreditam que as bibliotecas são múltiplas, transformadoras. E essa biblioteca, então, que possui diversos espaços, consegue dialogar no contexto da memória e no contexto da atualidade”, afirma Tamires Conceição, diretora de Bibliotecas Públicas do Estado e coordenadora do Sistema Estadual de Bibliotecas.

Oito bibliotecas 65d18

O Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas é composto por oito equipamentos, explica Tamires Conceição, sendo seis bibliotecas em Salvador, uma na ilha de Itaparica e a oitava, virtual, focada na história e na memória da Bahia. Há ainda, continua a coordenadora, um programa de bibliotecas itinerantes, compostas por um ônibus e um micro-ônibus que percorrem os municípios do estado levando livros, leitura e escrita.

Sobre a Biblioteca Central dos Barris, Tamires diz que o equipamento também compõe a memória afetiva de muitos frequentadores, sobretudo do público mais jovem e de leitores assíduos que sempre lembram de eventos da infância e adolescência relacionados ao espaço. A biblioteca, por ter nascido em um contexto histórico do fim da era colonial, quando o país começava a se pensar, de fato, como nação, tem um acervo, desde a origem, pensado também dentro desse contexto.

“Temos um acervo criado já pensando nessa construção do nosso país, trazendo as políticas de inclusão social, de ibilidade, políticas de tecnologia da informação e comunicação. O principal desse equipamento é que ele consegue unir o ado, o presente e já começar a dar caminhos para o futuro. Quando trazemos ações sobre feiras de profissões, empreendedorismo, nos preocupamos com a construção do jovem, do público leitor que frequenta esse espaço, fazendo atividades, mediando o livro e a leitura”, enfatiza a gestora.

A Biblioteca Pública do Estado da Bahia possui um setor Braille que é referência nacional em ibilidade
A Biblioteca Pública do Estado da Bahia possui um setor Braille que é referência nacional em ibilidade | Foto: Valdir Argollo/ Cedoc A TARDE/ 20-03-1998

A Biblioteca Central tem diversos setores, sendo o Braille um dos destaques nacionais em ibilidade, inclusive com o uso de tecnologia assistiva como os óculos OrCam, que permitem maior autonomia de leitura para pessoas com deficiência visual. Além disso, o prédio nos Barris também abriga os setores infantil, de periódicos, de documentação baiana, de obras raras, o audiovisual, com sala de cinema, e um espaço para eventos próprios ou da comunidade, o Quadrilátero.

Quadrilátero da Biblioteca Central
Quadrilátero da Biblioteca Central | Foto: Wilson Besnosik/ Cedoc A TARDE/ 07-03-1994

“É importante que a gente faça com que a sociedade, a juventude, conheça e se aproxime desses espaços. De que forma a gente faz isso? No setor infantil, traz muita contação de história, mediação de leitura de uma forma lúdica. No setor de obras raras e valiosas, trazemos exposições, rodas de conversa, palestras com historiadores, para que as pessoas saibam as temáticas que temos disponíveis e também dialoguem com os pesquisadores”, enumera Tamires.

O objetivo, continua a diretora de bibliotecas, é que a sociedade utilize cada vez mais os espaços públicos e gratuitos. “Acreditamos que dirigir as oito bibliotecas estaduais, principalmente esta, que é a primeira biblioteca pública da América Latina e do Brasil, tem esse papel crucial no desenvolvimento para a cidadania. Esse espaço está aberto para atender a população nos 30 dias no mês, das 8h30 até às 19h. É possível utilizar os espaços para fazer eventos, bate-papos, rodas de conversa, temos setores que acolhem as propostas por meio da Fundação Pedro Calmon. No nosso site (www.ba.gov.br/fpc) é possível verificar a programação cultural das bibliotecas públicas; além do nosso Instagram (@fpedrocalmon), com as ações e futuras programações”, orienta a diretora.

15.5.2001 - Reportagem do Cad 2 sobre os 190 anos da Biblioteca Central 240.69kb

*Colaboraram Priscila Dórea e Tallita Lopes

*Os trechos retirados das edições históricas de A TARDE respeitam a grafia da época

*Material elaborado com base em edições de A TARDE e acervo do CEDOC/A TARDE

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