IMPÉRIO AMEAÇADO
Restaurantes apoiam fim de 'monopólio' do Ifood com a chegada de concorrentes
O movimento das rivais do setor busca atrair novos estabelecimentos no Brasil
Por Leilane Teixeira

Considerado um "monopólio", o império absoluto do iFood parece estar com os dias contados desde o anúncio do retorno da 99Food, da reestruturação do Rappi e da futura chegada da Meituan, empresa chinesa que também promete aquecer o setor de delivery no Brasil.
O movimento das concorrentes busca atrair novos estabelecimentos e tem sido amplamente apoiado por entidades ligadas aos empresários, como a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel).
De acordo com o presidente da Abrasel na Bahia, Leandro Menezes, a instituição tem apoiado e trabalhado em conjunto com as concorrentes para “quebrar o monopólio” da empresa, que vem aplicando altas taxas aos estabelecimentos e agindo de forma abusiva.
“Temos hoje um grande problema no mercado, que é esse domínio absoluto, quase um monopólio do iFood. Isso gera vantagens para a plataforma, pois, ao estar sozinha no mercado de delivery, acaba cobrando mais — tanto do cliente quanto do restaurante — e remunera menos o motoboy. Ou seja, consegue monopolizar o setor por falta de concorrência”, afirmou.
Leandro explicou ao Portal A TARDE que, para melhorar o cenário, a Abrasel elaborou um plano de reestruturação: “No final do ano ado, fizemos um estudo do segmento junto com a Fundação Getúlio Vargas. Entendemos como o setor estava no pós-pandemia e, a partir disso, montamos um plano de restauração".
"Uma das ações que lançamos agora, justamente para equilibrar mais o mercado, foi o reinvestimento da 99Food e do Rappi, que são dois players que tentaram se estabelecer anteriormente, mas não conseguiram", acrescentou.
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99Food e Rappi no mercado
No dia 16 de maio, a 99 anunciou o retorno da 99Food, sua plataforma de entrega de comida, cuja operação havia sido encerrada em 2023.
Para se restabelecer no mercado, a empresa lançou um plano de investimento de R$ 1 bilhão, com o objetivo de transformar a 99 em um superapp. Além disso, oferecerá isenção de comissão e mensalidade por dois anos para os restaurantes cadastrados.

Em meio à “guerra do delivery”, o Rappi também se movimentou para ganhar espaço, oferecendo isenção de taxas por tempo indeterminado. A startup colombiana decidiu cobrar apenas as taxas dos meios de pagamento para novos usuários que utilizarem a plataforma no modelo full service, em que o Rappi é responsável pela logística da entrega.
“Com essas ações, os restaurantes serão isentos de taxas por dois anos na 99Food, não pagarão pela intermediação dos pedidos e, assim, essas empresas concorrentes conseguirão conquistar uma fatia maior do mercado e enfraquecer o monopólio do iFood. Em contrapartida, os restaurantes também terão um alívio financeiro, algo fundamental diante das dificuldades enfrentadas desde o pós-pandemia."
Estamos apostando nessa movimentação para promover um mercado mais equilibrado
Altas taxas no iFood
Atualmente, o iFood cobra comissões elevadas dos restaurantes, que variam entre 12% e 23%, conforme o plano contratado. Há ainda uma taxa de 3,2% para pagamentos online e uma mensalidade para empresas com faturamento acima de determinados valores. O total de encargos pode chegar a 32%, em média.
Com a chegada de concorrência real, a Abrasel acredita que o iFood precisará rever a sua atuação no mercado, o que trará impactos positivos para o setor. Leandro aponta possíveis mudanças que a empresa deverá adotar:
- Melhor remuneração para os motoboys;
- Redução das taxas;
- Atendimento mais digno aos clientes;
- Melhor e para os restaurantes.
“Apostamos muito nessas mudanças. Reconhecemos o valor do iFood para muitos restaurantes e para o mercado em geral, mas entendemos que a ausência de concorrência é prejudicial a qualquer setor, não apenas à alimentação fora do lar", salientou.
Leandro ainda enalteceu a chegada de concorrentes no setor: "É positiva, pois busca o equilíbrio de forças entre restaurantes, entregadores e consumidores. É por isso que incentivamos o retorno desses players ao mercado com estratégias mais competitivas, acreditando que isso trará benefícios reais para todos".
Clientes, entregadores e restaurantes acabam sendo o elo mais fraco na relação. Por estar sozinho no mercado, o iFood dita as regras do jogo
Chegada da Meituan
Além dos novos projetos no mercado, há também a chegada de novos competidores, como a gigante chinesa Meituan, que, na última segunda-feira, 12, confirmou que iniciará operações de entrega de comida no Brasil por meio do aplicativo Keeta ainda este ano.
O investimento de US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5,6 bilhões) foi anunciado durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China, no Fórum Empresarial Brasil-China, em Pequim.
Atualmente, a empresa atua apenas em Hong Kong e em algumas cidades da Arábia Saudita. A Meituan é um dos maiores superapps da China, com serviços que vão desde entrega de alimentos até transporte, aluguel de bicicletas e venda de agens.

A plataforma conta com mais de 770 milhões de usuários ativos e impressionantes 98 milhões de pedidos entregues por dia na China. “No volume de pedidos, eles têm uma média diária superior ao que o iFood registra em um mês. Isso se deve, em grande parte, ao tamanho da população chinesa", afirmOU o presidente da Abrasel.
"Nossa expectativa é que a Meituan venha ao Brasil com investimentos pesados e, assim, conquiste uma fatia significativa do mercado. O que não queremos é que qualquer player domine o setor de forma absoluta, pois isso sempre gera distorções", disse.
Ele completou: "O ideal é que tenhamos três ou quatro empresas concorrendo, o que torna o mercado mais saudável para restaurantes, entregadores, clientes e para as próprias empresas, que também precisam lucrar com suas operações".
Equilíbrio como meta
Apesar da disputa, a Abrasel negou que incentive um boicote ao iFood. O objetivo, segundo a entidade, é criar um ambiente mais justo para todos os envolvidos.
“Não queremos o fim do iFood, mas sim o fim da concentração. Com concorrência real, todos ganham: o restaurante, o entregador, o cliente e o próprio setor de tecnologia”, finalizou
iFood se posiciona
A reportagem procurou o iFood para esclarecer o cenário. Sobre monopólio, o iFood reforça que a afirmação de que detém mais de 90% do mercado não é verdadeira.
"Somos uma empresa brasileira que se adaptou ao longo dos últimos 14 anos a competidores regionais e internacionais. O mercado de delivery já é altamente competitivo e pulverizado. Cerca de 65% dos pedidos de delivery no Brasil ainda acontecem pelo WhatsApp, telefone e aplicativos próprios dos restaurantes", declarou.

A empresa afirmou ainda que apoia o mercado competitivo em prol do amadurecimento do delivery no País.
"Valorizamos o impacto positivo que podemos gerar e sabemos da nossa responsabilidade de colaborar para o desenvolvimento de todos os agentes do setor: entregadores, lojistas parceiros e consumidores. O ecossistema do iFood gera mais de 900 mil postos de trabalho diretos e indiretos em todas as regiões do Brasil. Reforçamos o nosso compromisso com a produtividade dos restaurantes, o alcance ao cliente final e o desenvolvimento do mercado de delivery no Brasil", concluiu.
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