LANÇAMENTO
Luedji Luna expõe traumas e desejos em novo álbum
Projeto, lançado nesta segunda, expõe detalhes sobre a relação da artista com o amor
Por Franciely Gomes

De volta ao cenário musical após uma pausa de quase três anos com o seu último álbum de estúdio, Luedji Luna lançou, nesta segunda-feira, 26, o disco “Um Mar Pra Cada Um”, que encerra uma trilogia iniciada com o “Bom Mesmo É Estar Debaixo D’Água” e seu deluxe.
O disco, descrito por ela como "o mais sincero" da carreira, fala sobre o seu desejo incessante de buscar amor em todas as pessoas com quem se relaciona, a fim de sentir que está sendo realmente amada e suprir a carência que a acompanha ao longo da vida.
Disposta a fazer com que o ouvinte se identifique com suas histórias e entenda que ela também está lidando com traumas, Luedji contou que não gosta de ser vista como uma artista intocável. Ela ainda revelou que busca ser cada vez mais autêntica e humanizada em seus trabalhos musicais.
Eu quero cada vez mais ser eu, porque a música coloca muita gente nesse lugar de diva, de deusa de entidade, de não sei o que, de intocável e nós somos quebrados por dentro como todo mundo. Estamos nos resolvendo, nos descobrindo e nos curando como todo mundo. Então eu quero me humanizar. Cada disco que eu faço, eu estou buscando essa humanidade
“Eu acho que depois de me mostrar tão vulnerável neste disco, o público vai se sentir até mais próximo de mim. Mais do que compreender, vai se compreender e se enxergar em mim a partir dessas canções”, reforçou.
A artista também explicou que sua maneira mais sincera de expressão é através dos textos, pois prefere escrever do que falar abertamente sobre seus sentimentos com as pessoas ao seu redor.
“Eu me sinto muito mais à vontade escrevendo, é o que eu faço melhor e eu acho que me sinto inteligível. Acho que as pessoas entendem e se enxergam no que estou escrevendo, e o fato de ser muito sincera e muito honesta, principalmente nesse disco, vai me aproximar mais das pessoas. Essa é a minha expectativa de que as pessoas possam me ver, não como a diva. Se enxergar nas minhas histórias, nos meus dilemas, nas minhas tretas, nos meus desejos".
Um amor pra cada um

Luedji Luna aproveitou o bate-papo para explicar a escolha do nome do álbum, ressaltando que o amor é como o mar em sua infinitude de sentimentos e profundidade, o que é traduzido através das canções que misturam os elementos do jazz com o soul.
“Então, o mar pra cada um poderia ser traduzido como um amor pra cada um, e um amor nessa dimensão, uma dimensão oceânica. O mar é imenso, profundo, então, eu não só 'tô' dando amor pra cada um ou expressando esse amor a partir das canções para cada uma dessas pessoas, como eu estou dando numa dimensão oceânica muito amor. Mas aí depois eu comecei a me questionar e eu acho que o álbum em todo é sobre a resposta para esse questionamento”, confessou.
“É por quê esse afã por amar, por que eu busco tanto amor, por que eu dou tanto amor e a resposta é porque eu quero receber. Eu quero receber amor também nessa dimensão oceânica. A minha carência também tem essa dimensão oceânica. A partir dos nossos traumas, das crenças limitantes, das programações que como mulher e negra, a gente acaba incorporando e acreditando que não é digna de receber esse amor, que nós somos objeto de desejo, objeto vetor para o amor”, completou.
A artista, inclusive, destacou que as referências para a escolha dos instrumentistas vieram deste o aos desejos mais íntimos do seu coração. “Todo o álbum é sobre busca, mas eu encontro as respostas no próprio álbum e a resposta está na compreensão de que eu sou sim digna de ser amada, porque eu sou um ser divino”, explicou.
Eu precisei olhar para lugares profundos da minha subjetividade para compreender tudo isso e, então, eu queria dividir também com as pessoas. Tem o óbvio, que é a música, mas o som, ele pode alterar, transformar e mobilizar a gente também em outras camadas mais sutis que podem levar a gente para esses ensaios, esse lugar de cura, de compreensão da gente mesmo. É um disco muito sobre autoconhecimento, um disco que leva a auto-amor né, auto-aceitação. Não é amor romântico puro e simplesmente
Parcerias com cantoras negras
Assumidamente apaixonada pela arte de artistas negros, Luedji fez uma seleção na escolha das parcerias do disco. Além dos músicos baianos Bira Marques no piano, Bruno Mangabeira no saxofone, Nei Sacramento na bateria e Ângelo Santiago no contrabaixo, que aparecem na canção “Gênesis”, primeira faixa do álbum, a artista convidou duas cantoras potentes para cantar lado a lado.
Sucesso nacional com o álbum “Caju”, que já a de 200 milhões de reproduções nas plataformas digitais, Liniker foi a artista mais esperada pelos fãs de Luedji durante a produção de “Um Mar Pra Cada Um”.

“Eu acho que se eu não fizesse um feat com a Liniker eu nem precisava lançar disco, porque estão há muitos anos pedindo um registro. A gente já faz coisas juntas há muito tempo como shows, projetos, etc, mas não tem um registro desse encontro, então, ficou aí entregue. Correspondi à demanda do meu público e do dela também”, brincou a artista.
Já a parceria da baiana com a cantora Tali surgiu durante um show do grupo Fat Family, do qual a família dela faz parte, em São Paulo. As duas se conectaram de cara e Luedji a convidou para estar presente no álbum, que ainda não estava sendo produzido.
“Teve um momento icônico, que todo mundo subiu no palco e todo mundo começou a falar e ela falou: ‘Meu sonho sempre foi e eu já respondi em várias entrevistas que se eu fizesse um feat queria que fosse com a Luedji Luna’. Aí, eu falei: ‘Então você tá no meu próximo disco!’. Eu não tinha nem disco, nem nada e como palavra não faz curva, ela tá no disco que eu prometi”, relembrou.
Futuro da música brasileira
Sobre seus projetos futuros, Luedji Luna afirmou que pretende exaltar a cultura negra no Brasil e no mundo com seu projeto ‘Manto da Noite’, que deve ser levado para Nova York, nos Estados Unidos, em breve.
“Nesse momento, eu quero só lançar esse disco e depois, eu quero continuar com o meu projeto paralelo, que é o Manto da Noite, a festa, onde eu quero reafirmar esse lugar da música negra do mundo, no Brasil. Do R&B, do jazz, do neo soul, do rap. Eu quero trazer artistas gringos para cá e quero levar artistas brasileiros pra lá”, disse ela.
Estou em diálogo com alguns parceiros em Nova York para levar também artistas brasileiros emergentes para lá. Pessoas que eu acredito que estão fazendo um trabalho incrível, que merecem escuta. Poder movimentar a cultura a partir das coisas que eu acho importantes e que eu gosto de ouvir, que eu acho que todo mundo tem que conhecer, não ficar só eu ouvindo na minha casa, e se eu posso fazer isso, se eu já consegui uma vez ano ado, quem sabe eu não consiga esse ano também
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